Gabrielle Zevin é uma autora best-seller de muitos livros, como Elsewhere e The Storied Life of A.J. Fikry. Embora seja conhecida por seus enredos e personagens cativantes, o que realmente a destaca no mundo literário é o seu modo de contar histórias. Seu trabalho está cheio de ganchos de enredo cativantes, metáforas, símbolos e descrições vívidas, tudo o que torna seus livros um verdadeiro prazer de ler.

Amanhã, Amanhã, e ainda Outro Amanhã

Recentemente eu li o último livro da autora, "Amanhã, Amanhã, e ainda Outro Amanhã”. Há algumas semanas, após ler Aurora, eu estava buscando a minha próxima leitura no Goodreads, e tratando-se de um universo sobre games nos anos 90, esse livro pareceu muito perfeito. Ver as referências de Donkey Kong e Super Mario trouxeram um sentimento de nostalgia e identificação prazerosos.

Trata-se de um romance, mas não um romance convencional, ou daqueles que enaltecem o amor romântico. É um livro que fala sobre o amor nas relações de amizade, mais especificamente sobre a amizade entre Sadie e Sam, ambos desenvolvedores e designers de jogos. Em determinada parte do livro, a autora descreve o desenvolvedor como um “adivinho de resultados possíveis e um vidente de mundos invisíveis”.

Sam conhece Sadie no hospital quando crianças. Sam estava há dias sem falar com ninguém, jogando Super Mario, quando Sadie aparece e começa a puxar assunto com ele. A conexão de ambos, apesar de forte, se perde por um tempo, mas retoma na época da faculdade e então segue ao longo de suas vidas profissionais, pois viram sócios e fundadores de uma companhia de jogos.

Ao longo do livro, a autora apresenta muitas referências interessantes, fala sobre engine de jogos, insere várias narrativas diferentes, até mesmo um jogo violento com as poesias de Emily Dickinson (se é que isso seria provável - no universo de Sadie, que é muito estranho, aparentemente faz muito sentido).

Mas o que talvez tenha mais me cativado no livro é a possibilidade de viver diversas vidas - que é essa abordagem de um multiverso que estamos vendo em muitos filmes ultimamente ("Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo”, por exemplo). Em um jogo, você sempre tem uma nova chance. As escolhas podem ser aleatórias e, caso o resultado final não for do agrado, é só voltar atrás. São muitos 'amanhãs’ que podemos viver: "Dias Infinitos”. Diferente da vida, em que ninguém está imune da perda ou da certeza da finitude.

NPCs: outra metáfora do universo dos jogos para a vida real são os NPCs, que nada mais são do que os figurantes de jogos, que tornam tudo mais realista, mas que na prática não escolhem nada, apenas existem para suporte. Sam chama seu produtor Marx de NPC, que aceita a metáfora, pois ele não é um designer de fato. É cruel e injusto pois a sua participação foi essencial - mas a crueldade do criativo, nesse caso, Sam, parece tornar o personagem mais palpável.

Por último, talvez menos interessante, um ponto que a autora explorou de uma forma honesta, são as inseguranças de Sadie no universo profissional e em seus relacionamento amorosos. Sadie tenta continuamente impressionar Dov (que é seu professor e amante) e também provar à comunidade que ela é tão - ou talvez mais - brilhante que Sam. Apesar de sempre aparentar uma pessoa de assistência, por ser do sexo feminino e por estar em um universo predominantemente masculino, ela batalha consigo mesma, buscando ser sempre fiel às suas crenças, independente do que seria mais comercial ou vendável. A argumentação do criativo versus comercialmente sustentável aparece em muitas narrativas. Eu amei.

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